A Atenção Primária à Saúde no Brasil enfrenta um cenário complexo, marcado por avanços importantes, mas também por desafios persistentes, especialmente relacionados à desigualdade econômica que influencia diretamente a fixação de profissionais de saúde. Recentemente, um painel lançado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, em parceria com a Umane, trouxe um diagnóstico detalhado sobre a situação da APS em todo o país. Essa análise reúne dados públicos do Ministério da Saúde, IBGE e DataSUS, revelando como as disparidades regionais afetam a cobertura e a qualidade dos serviços básicos de saúde.
O painel sobre Atenção Primária à Saúde permite uma visão mais clara da acessibilidade e atendimento nas 27 unidades federativas e nas mais de 450 regiões de saúde. Com indicadores atualizados, é possível identificar onde a APS tem se desenvolvido e onde existem maiores dificuldades, especialmente no que diz respeito à fixação de médicos e outros profissionais essenciais. A ferramenta oferece aos gestores públicos informações estratégicas para aprimorar o planejamento e a distribuição da força de trabalho na saúde básica, tema que é fundamental para garantir atendimento de qualidade à população.
Um dos dados mais expressivos do estudo mostra que quase todas as regiões do país alcançaram a referência de um profissional de APS para cada 3,5 mil habitantes, o que representa um avanço significativo. No entanto, a realidade dos médicos é diferente, com variações consideráveis entre estados, onde alguns registram quase três vezes mais médicos por habitante que outros. Esse desequilíbrio evidencia a relação entre a economia local e a capacidade de manter profissionais de saúde, fator que impacta diretamente a cobertura e eficiência dos serviços de saúde primária.
Apesar dos avanços na cobertura, a rotatividade de médicos na Atenção Primária continua alta, chegando a quase 34% no período analisado. Essa taxa elevada compromete a continuidade do cuidado e a qualidade dos atendimentos. Estados com menor desenvolvimento econômico apresentam as maiores taxas de desligamento de médicos, demonstrando que a desigualdade regional interfere na estabilidade da força de trabalho. Compreender esses fatores é crucial para formular políticas que valorizem e incentivem a permanência dos profissionais nos locais onde são mais necessários.
Outro aspecto importante abordado pelo painel é a distribuição dos agentes comunitários de saúde, que alcançaram a meta em grande parte das regiões, e a cobertura dos serviços essenciais como pré-natal e rastreamento do câncer de mama. Esses indicadores mostram que, apesar dos desafios, existem avanços concretos em algumas áreas da Atenção Primária, que contribuem para a melhoria da saúde pública e o fortalecimento da prevenção e do acompanhamento dos pacientes.
A cobertura vacinal, por outro lado, ainda é um ponto crítico, especialmente para crianças menores de um ano. Nenhum estado atingiu a meta recomendada pelo Ministério da Saúde, refletindo dificuldades no acesso e na adesão às vacinas. A baixa cobertura representa um risco à saúde coletiva e evidencia a necessidade de reforçar ações de mobilização, educação e oferta dos serviços de imunização dentro da Atenção Primária.
As internações por condições sensíveis à Atenção Primária também foram avaliadas e indicam que regiões com melhor cobertura e serviços mais eficientes apresentam menores índices de hospitalização evitável. Sul, Sudeste e Centro-Oeste mostraram resultados abaixo da média nacional, enquanto Norte e Nordeste ainda enfrentam dificuldades, reforçando o impacto da desigualdade regional na qualidade dos cuidados de saúde.
Em suma, o painel sobre Atenção Primária à Saúde destaca que, embora o Brasil tenha avançado na ampliação da cobertura, o desafio da desigualdade econômica permanece como uma barreira significativa para a fixação dos profissionais, especialmente médicos. O fortalecimento da APS passa pela valorização dos profissionais, pela redução das desigualdades regionais e pelo aprimoramento dos serviços básicos, garantindo que a população tenha acesso contínuo e qualificado à saúde.
Autor: Olivia Johnson