A expectativa é por diagnósticos mais rápidos e precisos, com a ajuda da tecnologia, impulsionando intervenções preventivas
O cenário da área de medicina diagnóstica para 2024 é muito promissor, com grandes oportunidades, embora haja alguns desafios. Segundo Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), as condições epidemiológicas continuam a impulsionar a demanda por exames, tanto na área laboratorial como na de imagem, especialmente em relação às doenças crônicas e ao envelhecimento da população.
De acordo com dados da 5ª edição do Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico, o Brasil está passando por uma significativa transição demográfica. Essa mudança, relacionada à transição epidemiológica, indica uma alteração nos padrões de saúde do país. Anteriormente, as doenças infectocontagiosas eram a principal causa de mortes, especialmente em nações de baixa renda.
Contudo, à medida que a população amadurece, as doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes, tornam-se mais proeminentes como causas de óbito. O Brasil reflete essa transição, com uma crescente prevalência de doenças não transmissíveis, evidenciando o impacto do envelhecimento populacional nesse cenário epidemiológico.
Além disso, Shcolnik ressalta que de acordo com as previsões do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 704 mil casos novos de câncer ao ano no triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência da doença. Essa realidade vai demandar ainda mais um diagnóstico precoce e preciso.
Por outro lado, estão surgindo novos biomarcadores que poderão auxiliar em diversos aspectos do diagnóstico, como identificação de doenças, avaliação de riscos, estratificação de pacientes e monitoramento de tratamentos. Sua utilização tem permitido a individualização de tratamentos para a medicina personalizada.
“A busca por métodos mais avançados e precisos é evidente, com a espectrometria de massa ganhando destaque como uma metodologia analítica no laboratório clínico. Apesar de ser uma opção custosa, oferece vantagens na identificação e quantificação precisa de marcadores”, acrescenta Shcolnik.
No que diz respeito à população, o presidente da Abramed observa um aumento na conscientização sobre a importância da prevenção, refletido na realização de procedimentos preventivos. “Exames acessíveis, como o papanicolau e a pesquisa de sangue oculto nas fezes para identificar câncer de colo de útero, são ferramentas que ganharão ainda mais relevância”, destaca.
Um assunto que merece atenção é o risco de uma epidemia de dengue. Se isso se concretizar, o papel do laboratório clínico para avaliar o risco de hemorragias será fundamental para evitar mortes. Segundo dados preliminares das associadas à Abramed, o número de exames de dengue realizados na rede privada aumentou mais de 77% em quatro semanas (de 16 de dezembro de 2023 a 13 de janeiro de 2024), enquanto a positividade variou entre 18% e 24%.
Falando em tecnologia, uma inovação significativa que Shcolnik ressalta é a integração da inteligência artificial (IA) na análise e interpretação dos dados produzidos por laboratórios clínicos e na área de medicina diagnóstica. A combinação desses dados com informações clínicas e características pessoais pode proporcionar conclusões preditivas, abrindo caminho para intervenções mais eficazes.
No campo do diagnóstico por imagem, Cesar Higa Nomura, vice-presidente do Conselho de Administração da Abramed, destaca a crescente presença da IA nos exames de ressonância magnética, que prometem aumento na qualidade e redução no tempo necessário para sua realização.
O uso da IA está promovendo uma revolução na prática médica, oferecendo diagnósticos mais rápidos e precisos, melhorando a eficiência operacional e proporcionando uma melhor experiência aos pacientes. “No entanto, é importante considerar questões éticas, regulatórias e de segurança ao integrar a IA na prática clínica, para garantir que os benefícios sejam alcançados de maneira responsável e segura”, salienta.
Além disso, Nomura ressalta a tendência de redução no uso de filmes e papéis nos exames de imagem. “A migração para formatos digitais e armazenamento em nuvem se mostra não apenas mais eficiente, mas também mais ecologicamente responsável, pois sem os filmes não há mais descarte no meio ambiente. Isso é uma tendência mundial”, declara. A Abramed tem se dedicado ao tema, atuando junto a outros atores da cadeia.
Outra tendência cada vez mais proeminente no setor de saúde é a busca pela interoperabilidade, visando otimizar a troca de informações entre diferentes sistemas e proporcionar uma visão abrangente dos dados do paciente. Nesse contexto, o Padrão Internacional de Nomenclatura e Codificação de Observações de Laboratório (LOINC) emerge como uma ferramenta crucial.
O LOINC estabelece um conjunto padronizado de códigos para a identificação única de observações clínicas e resultados de testes laboratoriais, facilitando a harmonização e integração eficiente de dados entre instituições de saúde. A implementação do LOINC contribui para a interoperabilidade ao permitir que profissionais de saúde compartilhem informações de maneira mais precisa e eficaz, promovendo uma abordagem mais coordenada e centrada no paciente.
“Essa tendência reflete o compromisso crescente em aprimorar a qualidade e a eficiência dos cuidados de saúde por meio da integração de sistemas e da adoção de padrões que transcendem fronteiras institucionais. A Abramed tem atuado ativamente pela sustentabilidade do setor, buscando tornar a interoperabilidade uma realidade”, complementa Shcolnik.
Assim, 2024 promete ser marcado por avanços significativos no setor de medicina diagnóstica, desde o aprimoramento de métodos analíticos até a integração da inteligência artificial, proporcionando diagnósticos mais precisos, rápidos e aprimorando as possibilidades de intervenções preventivas.